quarta-feira, 27 de julho de 2011


***FIOS***

O fio que tece o destino
é o mesmo que tece a teia
é o fio do pensamento que
tece da ampulheta a areia
o fio que faz o regato
molhando as dores do mundo
aliviando os pesares
daquilo que foi para o fundo
O fio que a alma prende
é o mesmo fio que suspende
mas ainda não se entende
por mais que se tente entender
Na face dolente o sorriso
estampado é o fio esticado
E o fio da caravana
ao longe riscando o deserto
a miragem que a traz para perto
recebo de braços abertos
O fio que puxa o balde
do meio do poço profundo
é o fio que puxa a água
que mata a sede em segundo
O fio que afiado corta
é o fio achatado que entorta
Prá acompanhar a fio da vida
que foi escrita torta
O fio que sobe e desce
e prende o elevador
ante o atrito incansável
aquece guinchando de dor
O fio de cabelo que enrosca
é o fio que move o relógio
Desenrosca o fio apressado
Trocando o dia parado
O fio que corre a calçada
atravessando a rua
É o fio permanente,
que contorna suave a lua
O fio da lágrima que escorre
pela face amarga e dorida
é o mesmo fio que sutura
a ferida profunda escondida
Com todos os fios da vida
não há fio tão comprido
que costure em todos os panos
os amores dos humanos
O fio que recorta a alma
de um humano desumano
que se dependura acima de Deus
e acima de seus irmãos
não é gente...é um projeto
um arremedo pendente
de um fio duro e perecível
que não serve para o mundo
muito menos prá ser gente.

***Rosa Mel***

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